Foram debatidos os temas sobre “Testar e Tratar” a AIDS no Brasil e as temáticas da estratégia global de tratamento, em preparação para a reunião do Conselho Diretor do UNAIDS que discutirá o tema em dezembro de 2013. Bom, vou relatar aqui o que eu debati nesta reunião, pois foram ditas muitas coisas e vou citar aqui as que julgo mais pertinentes para socializar com vocês.
Eu agradeci pelo convite de ser chamado para participar e já comecei dizendo que todos os dias nós, cidadãos soropositivos temos nossos direitos violados. Seja no trabalho, no dia a dia com a discriminação e o preconceito ou no péssimo atendimento nas questões que envolvam a saúde. Afirmei que a AIDS empobrece! Quem tem AIDS na maioria das vezes perde seu emprego seja pela discriminação ou porque perde a capacidade laborativa e não render mais o que rendia antes do HIV. Afirmei que nós do Movimento Social estamos falando de “nós para nós mesmos” porque o governo não nos houve. A minha esperança é que através desta reunião todas as demandas expostas ali sejam discutidas pela UNAIDS em dezembro.
O Dr.Luiz Loures falou sobre a testagem dos HSH e campanhas informativas, pois se admirou com os índices de contaminação entre esta população estar muito alta. Eu disse que um País em que a bancada evangélica influencia diretamente nos atos e decisões do Ministério da Saúde e veta campanhas e materiais informativos a esta população, fica inviável de se fazer uma campanha que possa realmente atingir e conscientizar para tentar mudar estes índices. Citei as conversas entre o Pastor Feliciano e o Ministro Padilha via Twitter (quando foi vetada a última campanha) e também a fala em que o Pastor Feliciano disse que “40 milhões de votos tinha peso”. A fala do Deputado Jair Bolsonaro que afirmou que “remédios tinham que ser dados para crianças e idosos e não para quem procurou ter AIDS”.
Outro ponto discutido foi o polêmico “Testar e Tratar”. Em que se inicia logo o com a terapia anti HIV independente da contagem de células do CD4 do paciente contaminado. Eu disse que não era simplesmente só dar o medicamento. Dr.Luiz Loures então retrucou perguntando se eu não acha uma boa ideia o precoce início do tratamento. Respondi que era uma alternativa muito positiva, mas não é apenas dar o remédio sem levar em consideração os efeitos adversos.
- Que tem HIV e faz uso da TARV tem muito mais chances de desenvolver problemas cardíacos, isquemias, problemas renais, envelhecimento precoce e muitas outras patologias coadjuvantes ao HIV. Ando muito assustado que a cada evento que vou vejo mais e mais pessoas deficientes pela AIDS. Temos que ter um acompanhamento multidisciplinar com profissionais capacitados nas questões do HIV/AIDS. Exames de alta complexidade para melhor diagnósticos das mesmas disponíveis para esses pacientes.
Dr.Luiz Loures respondeu afirmando que não tinha se dado conta de todas essas necessidades e especificidades e ficou bastante preocupado com o levantamento desta questão. O Dr.Luiz Loures também fez comentários sobre a África e alguns países da Ásia, por sinal comentários muito interessantes. Afirmei que aqui no Brasil temos várias Áfricas. O nosso sertão do Nordeste, a esquecida região Norte e até mesmo nas periferias das grandes cidades. Que estas populações estão jogadas a sua própria sorte. Faltam-lhes os recursos mais básicos para sua sobrevivência com dignidade. Se tivéssemos um Sistema de Saúde descente as mais de doze mil mortes ao ano por HIV/AIDS poderiam cair pela metade e até o número de mortes por outras doenças também. Eu chamo isto de genocídio! Eu não admito que um País que está entre as dez maiores potências econômicas do mundo e que se dá ao luxo de sediar uma Copa do Mundo, gastar mais de um bilhão de reais em um estádio de futebol e ainda sediar uma Olimpíada venha com o discurso que não tem verbas para a saúde! E ainda por cima o Ministro da Saúde ter a ousadia e cara de pau de mandar que as pessoas com diabetes reutilizem seringas descartáveis.
Outro assunto também citado foi os dezoito milhões destinados ao combate das DSTS/AIDS parados nos cofres do Governo do Estado do Rio de Janeiro e em outros estados e municípios do Brasil. Sobre o aumento de casos de DSTs no Brasil eu disse que se pegarmos a linha do tempo de quando o governo começou a fazer o belo trabalho de se acabar com as ONGs os índices começaram a subir. As ONGs conseguem chegar às periferias a onde o braço engessado do estado não consegue chegar, muitas vezes porque não querem ir até lá encarar a realidade dos fatos e tomar providências. Em muitos estados hoje a sífilis esta fora de controle, inclusive com muitos casos de sífilis congênita. Sem contar os usuários de crack que as ONGs tem uma maior facilidade e sensibilidade em abordar esse público.
O balanço geral da reunião foi excelente! Uma reunião de altíssimo nível e o grande empenho de todos ali presentes em tentar resolver várias questões tão complexas. Espero que colhamos bons frutos desta reunião brevemente, que as demandas levadas a UNAIDS tenham sucesso e que esta seja apenas uma de muitas reuniões com a UNAIDS.
Segue abaixo algumas fotos da reunião no escritório da sede do Médico Sem Fronteiras.
Visite o site da instituição Médicos Sem Fronteiras: http://www.msf.org.br/
Por Renato da Matta